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Bauru: Periferia em ação – Capoeira & Cidadania

Fortunato, Jaraguá e Santa Edwirges unem forças para combater as mazelas sociais
Para lutar contra os estigmas da violência, da criminalidade e da miséria que “rotulam” a periferia de modo geral, o Núcleo Fortunato Rocha Lima, o Parque Jaraguá e o Parque Santa Edwirges, três bairros da zona norte de Bauru, resolveram unir forças.
Suas associações buscam, na ajuda mútua, a saída para os problemas socioeconômicos que atingem a população da região. Além dos programas desenvolvidos pelo poder público, o trabalho só é possível com iniciativas da própria comunidade.
 
Quem faz a diferença são pessoas como as irmãs Lidiane Silva Pereira de Oliveira, 25 anos, e Leda Maria Pereira, 26. Juntas, elas coordenam o projeto Anjos da Roda, que oferece aulas de capoeira a 36 crianças e adolescentes carentes do Fortunato Rocha Lima e de bairros vizinhos.
Lidiane (ou Diane Queixada, sua identidade como professora de capoeira), conta que a inspiração para o projeto, iniciado em maio de 2004, foi Wayslan Carlos Lopes, 16 anos. “Na época, comecei a dar aulas particulares de capoeira no bairro e o Wayslan ficava assistindo, com vontade de participar, mas não tinha condições de pagar” relembra a estudante do último ano de educação física.
 
Como outros meninos também mostraram interesse, Leda sugeriu a criação do Anjos da Roda. “Por que ficar esperando o governo quando também podemos contribuir para um futuro melhor?”, diz ela, que auxilia Diane na coordenação do Grupo de Capoeira Pau Pereira.
 
Wayslan e outros beneficiados agradecem. Há cinco anos na capoeira (e há 11 no Fortunato), ele achava que nunca iria conseguir jogar igual às outras pessoas. “Agora, consigo fazer vários movimentos bonitos. Me orgulho de ser capoeirista”, diz.
 
O desenvolvimento do adolescente, porém, vai além do esporte. “Antes, eu só bagunçava e brigava. A capoeira me ensinou a ter mais paciência e disciplina”, comenta Wayslan, que sonha em fazer faculdade de educação física e se tornar mestre de capoeira.
 
Para compartilhar esse bem-estar, Wayslan incentivou pessoas como Willian Aparecido Pereira da Silva, 14, a participar do projeto. Willian, por sua vez, levou o irmão, Lucas Vinicius Antonio, 10.
 
Para Willian, que há cinco anos vive no Fortunato, a capoeira serve como um “analgésico” para as dificuldades financeiras e emocionais de sua família – principalmente o alcoolismo dos pais. “A capoeira faz a gente esquecer um pouco os problemas. Me dá alegria e me ajuda a acreditar que o futuro pode ser melhor”, afirma. Lucas completa: “A gente fica mais esperto. Me divirto”.
 
Francine Dagmar Regina Pereira, 11 anos, também se diverte. Tanto que diz que, quando a aula acaba, às sextas-feiras, já vai embora com saudade. E ela quer levar essa alegria adiante. “Quero ser mestre de capoeira para também dar aulas a outras pessoas carentes. Penso em ser veterinária também.”
 
Para Diane Queixada, que participa de mais três projetos sociais em outros bairros de periferia, o desenvolvimento de seus alunos é a melhor gratificação. “É a paixão pela capoeira e o bem-estar desses jovens que motiva minha dedicação”, diz.
 
Para preencher as 50 vagas disponíveis, Diane e Leda estão com inscrições abertas para crianças e adolescentes de 4 a 16 anos. Os interessados devem ir acompanhados dos pais à rua João Prudente Sobrinho, sem número, na quadra poliesportiva (emprestada) do projeto Girassol, às sextas-feiras, das 19h às 21h. Mais informações pelos telefones (14) 9748-9871 ou 9134-4911.
 
Agente Jovem motiva Rodrigo
 

Há dois meses, jovens dos bairros Fortunato, Jaraguá, Nove de Julho, Parque Roosevelt e Santa Fé contam com o programa Agente Jovem, desenvolvido pela Sebes (Secretaria Municipal do Bem-Estar Social) em parceria com o governo federal.
 
A iniciativa, porém, partiu de Alcides Augusto Mendonça Júnior, 43 anos, presidente da creche-berçário São José, que divide espaço com o “barracão” do Agente Jovem. De segunda a sexta, pela manhã, 25 adolescentes têm aulas de pedagogia, dança, artes plásticas, educação física e biologia, além de receber bolsa de R$ 65 por mês se a freqüência for maior que 75%.
 
Para Rodrigo da Silva, 15 anos, a bolsa é mais do que um incentivo. É com o dinheiro recebido do programa, somado a alguns “bicos”, que sua família sobrevive. Ele mora no Fortunato com a mãe e uma irmã de 18 anos, mas as duas estão desempregadas. “Na última entrevista de trabalho que minha mãe fez, já estava tudo certo, mas quando ela disse que morava no Fortunato, perdeu a vaga”, conta, com lágrimas nos olhos.
 
Rodrigo vê no programa a chance de um futuro promissor. “É importante o que aprendemos aqui”, diz ele, que sonha em ser jogador de futebol e se espelha em Ronaldinho Gaúcho.
 
Futsal diminui preconceitos
 
“O futsal me ajudou a ser menos preconceituosa, a ter mais respeito pelas pessoas e a estudar melhor.” É dessa forma que a estudante Melanie Andreza da Silva, 14 anos, define a importância do projeto Criança Não Trabalha, Criança Dá Trabalho.
 
Realizado há três anos por Genival Francisco da Silva, presidente da Associação de Moradores do Parque Santa Edwirges, em parceria com a Semel (Secretaria Municipal de Esportes e Lazer), o projeto visa oferecer lazer a crianças e adolescentes carentes do próprio bairro e vizinhos. “O objetivo é ocupar a criançada, principalmente durante as férias escolares, e ampliar a convivência delas com pessoas de outros bairros e classes sociais por meio dos campeonatos que realizamos”, explica Silva.
 
Segundo ele, o projeto prevê também atividades educativas e culturais. “Ainda estamos ‘engatinhando’ e, para isso, são necessários voluntários.”
 
Programa ajuda jovens no primeiro trabalho
 
Se conseguir o primeiro emprego é algo difícil para a maioria das pessoas, o desafio é ainda maior para quem vive na periferia. “Isso fecha portas. Infelizmente, quem mora em bairros periféricos enfrenta todo tipo de preconceito”, afirma Benedito Domingos da Silva, o Benê, uma espécie de relações públicas da Associação de Moradores do Parque Jaraguá.
 
Para melhorar a colocação no mercado de trabalho de jovens do Jaraguá e bairros vizinhos, a associação acaba de firmar uma parceria com o Cecape (Centro de Capacitação Profissional do Estudante), uma empresa de RH de Campinas. “Vamos trabalhar em conjunto com empresários da cidade para dar oportunidade de estágio principalmente a estudantes de comunidades carentes”, afirma Willer Moreira, gerente comercial do Cecape. Inicialmente, há 30 vagas disponíveis para jovens a partir de 16 anos – do ensino médio ao superior.
 
Uma das metas é utilizar a mão-de-obra formada pelo programa Primeiro Emprego, desenvolvido pela prefeitura em parceria com o Estado nas unidades do NAF (Núcleo de Apoio à Família) nos parques Jaraguá e Real.
 
Para Joice Aparecida de Oliveira, 17 anos, uma das primeiras a garantir uma vaga, o estágio na padaria Copacabana vem em boa hora. Formada no curso Primeiro Emprego no início deste ano, no Jaraguá, ela começou a trabalhar há duas semanas e comemora a possibilidade de ajudar no sustento da família – vive com a mãe, o padrasto e as duas irmãs. “Trabalhar é ter responsabilidade e lutar por uma vida melhor”, diz ela, que pretende ser pedagoga.
 
Vanderléia dos Santos Silva, 17, sequer concluiu o curso do Primeiro Emprego e já começou a trabalhar na loja PoliBrasil Modas na semana passada. “Trabalho como repositora, atendente e vendedora. Estou aprendendo bastante coisa”, conta. Com o salário, quer auxiliar nas despesas da família e guardar dinheiro para fazer faculdade de administração.
 
"Deveriam conhecer a periferia"
 
Apenas um mês após se formar no curso do Primeiro Emprego em julho do ano passado, Thiago Rafael da Silva Remoardo, 16, conseguiu uma vaga de auxiliar administrativo na editora Alto Astral. “Estou aprendendo muita coisa. É importante para o meu desenvolvimento pessoal e profissional”, comenta.
 
Segundo ele, o trabalho o ajudou também a descobrir sua vocação: quer fazer administração de empresas. Para isso, leva a sério as aulas do 2º ano do ensino médio, na Escola Estadual Professor Ayrton Busch. “Quero me tornar um grande profissional”, diz.
 
Se vê como obstáculo o preconceito que atinge a comunidade da periferia? “O que vale não é a localização do bairro, e sim os moradores. Todo lugar tem problema. As pessoas deveriam se desarmar e conhecer melhor a periferia. Com certeza, não é tudo de ruim que dizem”, afirma.
 
Iniciativa põe comida na mesa
 
Do Parque Roosevelt até o Jaraguá, a dona-de-casa Claudinéia da Silva Messias do Santos, 27, calcula andar quase uma hora – mas compensa. A longa caminhada é em busca de alimentos, cedidos pelo projeto Dê Pão a Quem Tem Fome e Água a Quem Tem Sede, organizado pela Associação de Moradores do Jaraguá em parceria com a 5ª Igreja Presbiteriana Renovada – não há restrição religiosa ao público atendido.
 
Claudinéia vive de aluguel com os três filhos e o marido, servente de pedreiro. A família sobrevive com R$ 400. “Mal dá para pagar as contas. Há cinco meses, estamos sem energia elétrica. São esses alimentos que colocam comida na mesa para os meus filhos”, diz Claudinéia, beneficiada pelo projeto há um mês.
 
Em andamento desde dezembro do ano passado, por meio de uma parceria com o Banco de Alimentos da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), o projeto acaba de ganhar o reforço das doações do supermecado Superbom. Há pouco mais de um mês, o número de famílias atendidas passou de 250 para 350. Por dia, 600 quilos de legumes, verduras e frutas são distribuídos. Cada família recebe 10 quilos de alimentos, uma vez por semana – além da sopa servida às quintas-feiras para 200 famílias.
  
Fonte: Agência BOM DIA

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