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Capoeira também ajuda na melhoria das notas

Esporte, aliado à escola, tem transformado o aprendizado das crianças e adolescentes em Itaitinga


A capoeira e a educação estão unidas em um projeto social que visa a transformação de vidas de crianças de quatro a 15 anos em Caracanga, distrito de Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Todos os sábados, um grupo de 40 meninos e meninas se reúne no pátio ao lado do Bar do Lula ou na sombra de um cajueiro em terreno vizinho para o treino com os instrutores do projeto “Eu, você, a escola e a capoeira”.

O projeto é realizado há quase dois anos pelo Centro Cultural Capoeira Água de Beber (Cecab) por Franco Silva e Juliana Monteiro, sob a orientação de Robério Batista de Queiroz, o mestre Ratto

Além de aprender os golpes que mais gosta – uau e meia lua de frente com armadura -, Marcos Levi Vieira Cavalcante, 12, melhorou as notas na escola. A mãe dele, Leila Maria Pires Cavalcante, conta que Marcos e seu irmão, João Marcos, 5, estão mais atentos e responsáveis e são incentivados a obedecer em casa e na escola pelo tio da capoeira, Franco Costa e Silva.

“A capoeira mudou a minha vida. Aprendi a jogar. Aumentou o meu físico e me ensinou a sorrir mais”, afirma Marcos Levi. A mãe dele diz que o filho gosta do tio Franco, que lhe ensina a ter zelo pela escola, a fazer as tarefas, a se comportar bem nas aulas e ainda empresta o berimbau para tocar em casa. “Tudo nesse mundo gira em torno da união”, disse ela com relação à integração do projeto social com a escola. “A gente só tem de agradecer por esse projeto, porque antes não tinha nada de lazer para as crianças. A violência, roubo e drogas estão até no interior”, lembra.

O projeto é realizado há quase dois anos pelo Centro Cultural Capoeira Água de Beber (Cecab) por Franco Silva e Juliana Monteiro, sob a orientação de Robério Batista de Queiroz, o mestre Ratto. O Cecab mantem no bairro Serrinha, em Fortaleza, outro projeto com capoeira, educação e crianças, que gerou a tecnologia social transposta para a realidade rural de Itaitinga.

O trabalho em Caracanga desenvolveu a confiança da comunidade no projeto. “Os adultos foram cativados pelas crianças” conta Sérvulo Pimentel, que coordena a iniciativa e deu a ideia para a criação da Associação de Moradores de Caracanga com objetivo de ter mais força na defesa dos interesses comuns. A presidente da Associação, Valéria Oliveira Gomes Sousa, afirma que o projeto não é só capoeira, mas a educação das crianças, com aulas de flauta e ensino de caligrafia. Os instrutores acompanham o comportamento das crianças e querem saber do boletim escolar, ela destaca.

Frequentar a escola é condição para participar da capoeira. O projeto trouxe também cursos de artesanato para as mães, informa a presidente da Associação. Segundo Valéria Sousa, o próximo passo é concluir a cobertura da sede da Associação em janeiro, que já tem as telhas e espera conseguir a madeira com o resultado de bingo que vai sortear uma cama-box, fruto de doação. O projeto social tem o apoio da diretora da escola local e do núcleo Flor Divina do Centro Espírita Beneficente União do Vegetal (UDV), do qual o benefício à comunidade do entorno da unidade se originou, informa.

Um exemplo da integração acontece em março na realização do Dia do Bem pela UDV com atividades beneficentes realizadas na Escola de Ensino Fundamental Manuel Rodrigues de Paiva, conta Iris Cleide Lopes, a diretora da unidade na Caracanga. “A parceria com o projeto da capoeira é muito importante para a escola. Trabalhamos comportamento e respeito, e o tio Franco cobra dos meninos os mesmos valores”, ela afirma.

“Respeito ao próximo, a pai e mãe, isso se perdeu no meio do caminho”, lamenta a diretora. Segundo Iris Lopes, a escola hoje está fazendo o papel da família porque a maioria dos pais está se omitindo.

Edjane Damasceno de Lima, mãe de outro aluno da capoeira, Caio Damasceno de Sousa, 9, observa que a participação do filho no projeto influenciou no comportamento, no sentido de ficar mais atento na escola e melhorou as notas. O menino arranjou mais amizades, tornando-se mais responsável pelas atividades de casa, da escola e da capoeira. Agora, quando recebe alguma coisa, o filho agradece, ela diz, como exemplo.

Luciano Júnior Cavalcante, 11, resume em uma frase a sua opinião sobre o projeto social de que participa: “amo a capoeira”. A mãe dele, Aparecida de Souza Lima, assinala que os instrutores da capoeira demonstram compromisso porque vem todo sábado para os treinos, sem cobrar nada, com toda boa vontade. “Eles ajudam na educação, conversam muito sobre a escola e acompanham as notas e ensinam muitas coisas de uma maneira complementar ao que é ensinado na escola”.

No Dia da Criança, Elenira Oliveira do Carmo, mãe de Carlos Henrique do Carmo, 15, prestigiou a troca de corda do filho, agora branca e laranja, um grau a mais no aprendizado da capoeira. Filmou o momento com o celular. O filho mostrou habilidade na roda de capoeira. A solenidade incluiu batizado das crianças pequenas. “Aprendi a me comunicar, arranjar amizades boas e a tocar flauta. Não fico mais andando na rua”, disse.

Carlos Henrique disse que quer chegar a contramestre ou mestre na capoeira. A participação na arte marcial criada pelos negros escravos no Brasil, segundo ele, ajudou a melhorar as suas notas na escola e influi na sua educação como pessoa, testemunha. Circe Shara, 10, que também recebeu a corda branca e laranja, diz que estar na capoeira é muito melhor do que ficar no meio da rua brincando, com risco de acidente.

“Minha letra era horrível, agora está tão bonita”, declara Circe Shara sobre o resultado da prática de caligrafia. A aluna conta que aprendeu a tocar flauta e quer ser veterinária. Segundo ela, a capoeira incentiva para o estudo, ao qual dedica duas horas em casa, todo dia. Participar do projeto ajudou a tirar 10 na prova de história e geografia com o que aprendeu sobre a capoeira e a escravidão no Brasil. A atividade ajuda ainda na sociabilidade. “Conheci muitas amigas. Pessoas que via, mas não falava, por vergonha”, ela relata.

Encantamento

“Acreditamos na pedagogia do encantamento defendida por Paulo Freire que afirma ser necessário sentir para aprender”, diz o mestre Ratto ao explicar o projeto “Eu, você, a escola e a capoeira”. Segundo ele, a implantação do trabalho em Caracanga vem propor a utilização da capoeira como instrumento de sensibilização para a educação infanto-juvenil, despertando os jovens para a importância da escola e do estudo na formação do cidadão.

No Dia da Criança, antes do batizado e troca de faixas, Ratto reuniu as mães dos alunos para conversar sobre a importância da atividade que os filhos desenvolvem aos sábados. No encontro, propôs alguns exercícios corporais acompanhados pelas mães. Ao final, convidou quem queria participar de uma aula numa turma de mães.

É possível apresentar aos jovens os conhecimentos da arte da capoeira e também introduzir novos conceitos e ideia, sensibilizando-os para outras áreas do saber, sobretudo o conteúdo escolar, explicou o mestre Ratto.

Fonte: http://diariodonordeste.globo.com

 

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