Entrevista: Mestre Genaro
Genaro Raymundo Coelho (Mestre Genaro), filho de Claudionor Coelho e de Veridiana Coelho, nasceu na Maternidade Dr. Climério de Oliveira – Bairro de Nazaré/Salvador/BA, mas a família morava no bairro Politeama de Baixo. Trabalhou junto com o médico (não se lembra do nome) a parteira Emília q era mulher do grande jogador de futebol o finado Popó do Ypiranga da Bahia. A madrinha era Almerinda do Nascimento, de São Francisco do Conde, era um lugar de muitos engenhos de açúcar.
1 – Qual foi seu 1º contato com a capoeira?
– Através de rodas de capoeira na Feira da Água de meninos em Salvador.
2 – Fale um pouco sobre o seu primeiro Mestre?
– Meu primeiro mestre Artur Emídio de Oliveira. Conheci o Mestre Artur na sua academia no Bairro de Higienópolis no Rio de Janeiro. Essa Academia ficava em cima de uma farmácia chamada Farmácia Novo Rio. Ele treinava luta livre e Vale tudo com Valdemar Santana e outros. Depois de perder um campeonato, foi incentivado a dar aula de capoeira, uma vez que sabia jogar.
Até hoje não vi ninguém jogar capoeira como o mestre Artur.
3 – Um fato que lhe marcou positivamente dentro de sua vida na capoeira.
– A minha apresentação na televisão em 1957 e os shows que fazíamos nas casas noturnas e televisão.
4 – Em algum momento você pensou em desistir, achou que a capoeira não lhe satisfazia integralmente?
– Não, pois tinha outro meio de renda. A capoeira sempre foi meu esporte e uma paixão. Também uma forma de representação da minha raça e divulgação da herança deixada pelos filhos dos escravos.
5 – Conte-nos qual foi sua primeira composição (música de capoeira), como foi esta experiência e qual a sua música preferida:
– Minha primeira composição foi Pega o Negro. A música nasceu no dia em que assistia uma roda de capoeira onde jogavam dois negros. Olhei aquela imagem e comecei a cantar o que vinha em minha cabeça. Daí surgiu a música.
Minha música predileta é Paranaei.
6 – A Capoeira como “ferramenta de resistência”, A Capoeira como “meio de subsistência” até A “Capoeira Business”… Qual é a sua postura e visão em relação a estes processos?
– A capoeira foi criada pelos filhos de escravos para uma maneira de diversão. Com o tempo os escravos descobriram que ela seria um instrumento de libertação, sendo usada para fuga e defesa.
Quando começamos a propagar a capoeira foi com intuito de demonstrar essa cultura tão rica e saudável. Contudo tomou uma grande proporção, além do esperado, tornando-se um negócio. Creio que impedir esse progresso seria difícil, diante de um mundo capitalista. O que acho importante é ela não perder seu objetivo real de capoeira.
7 – No tocante à sua experiência de trabalhador formal (bancário) e capoeirista, diga-nos como (e quando) essas atividades se permitiram concomitância harmônica e como (e quando) elas se incompatibilizaram.
– Perdi a oportunidade de viajar para os EUA e a Europa, mas fiquei aqui tomando conta da academia do mestre Artur. Foi à única incompatibilidade que ocorreu. No mais, sempre soube conciliar as duas coisas.
8 – Existe uma ampla discussão a respeito das tradições dentro da capoeira, as diversas formas em que se apresentam, o modo de preservá-las e a importância em divulgar às novas gerações de maneira coerente e séria a história, os personagens, os causos e toda a infinidade de elementos inerentes da capoeira. De que maneira o “Mestre Genaro” encara esta missão e qual seria a melhor forma de trabalhar neste contexto?
– Acho importante preservar algumas características, mas também vejo a necessidade de uma renovação. Tudo se renova, o importante é o equilíbrio nas mudanças para que elas não ocasionem a mudança dos princípios fundamentais da capoeira e se percam.
9 – Os historiadores divergem sobre a origem do termo capoeira. Para você qual é o verdadeiro significado, não do termo, mais sim da “CAPOEIRA”.
– O termo surgiu porque era a vegetação rasteira na qual os negros ficavam camuflados, quando fugiam. Ficaram então conhecidos como capoeiras. Como a dança era praticada por estes escravos, passou a se chamar capoeira.
10 – Fale-nos sobre seu trabalho, suas expectativas e objetivos:
– A capoeira não é meu trabalho, apenas continuo com a divulgação uma vez que não posso mais jogar. Quero poder levar esse esporte sempre que puder. A capoeira é uma luta genuinamente brasileira, por isso quero continuar demonstrando que essa cultura tem feito muito bem a todos que a praticam e que a tornam um meio de viver.
11 – Gostaria que nos deixasse uma mensagem pessoal para todos os visitantes e leitores do Portal Capoeira:
– Caro leitor do portal agradeço mais uma vez a oportunidade de contar um pouco mais da história rica da capoeira. Sinto-me honrado e feliz em ter essa oportunidade de responder suas perguntas. Desejo a todos muita paz, saúde, felicidades a vocês, desejando que continuem nos ajudando na propagação dessa cultura tão linda criada pelos filhos dos escravos negros africanos. Que haja sempre uma renovação, pois tudo morre com as fadigas e as emoções.
Abraços a todos