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Capoeira na Palestina: uma turnê de resistencia da escravidão a ocupação

Coletivo de Capoeira Liberdade – Palestina está organizando uma turnê-evento com capoeiristas na semana entre 24 de Outubro e 1 de Novembro de 2013. A turnê-evento vai envolver oficinas, rodas e viagens pela Palestina, e será uma oportunidade rara para capoeiristas palestinos e do resto do mundo para se encontrar e interagir.

“Palestina sim sim sim… ocupação não não não não.” Para palestinos vivendo sob ocupação militar, a historia da capoeira de resistência soa como uma melodia especial. Como muito iniciantes no mundo da capoeira, muitos palestinos são atraídos pelos acrobáticos movimentos desta arte – mortais, au sem mãos, bananeiras.  Mas com o passar do tempo, a capoeira começa a ganhar uma dimensão e um significado mais profundo.

“Quanto mais eu aprendia sobre a historia, mais interessada eu ficava,” diz Zeina, que participa de um novo coletivo de palestinos praticando capoeira em Ramallah, a principal cidade da Cisjordânia. “Os temas abordados na capoeira ecoam a realidade que nós vivemos como palestinos: opressão, resistência,  ânsia por libertação”. Embora a vida sob ocupação militar não seja a mesma como na escravidão, Zeina explica que para todo povo oprimido, “é bom escutar sobre as lutas dos outros; aprender lições que outros aprenderam pelo caminho mais difícil.

Apoiar o turnê e o Coletivo de Capoeira Liberdade!

Como a capoeira continua a se expandir e crescer para alem das fronteiras brasileiras, vale a pena perguntar se o mundo da capoeira no século 21 tem aprendido estas lições – especialmente quando se trata da questão Palestina.

Ramallah fica no lado leste do que muitos chamam de ‘muro de apartheid israelense’, uma enorme barreira feita de cercas eletrificadas e colunas de concreto de até 8 metros de altura, cobrindo mais de 700 quilometros e se infiltrando em terras palestinas. Palestinos com carteira de identidade da Cisjordânia, incluindo a maioria dos membros do Coletivo de Capoeira Liberdade – Palestina, somente são capazes de atravessar o muro obtendo autorizações especiais, o que não são faceis de conseguir.

A rota do muro se infiltra profundamente no território ocupado, cortando acesso dos palestinos à suas famílias, terras cultiváveis, o Mar Mediterrâneo, e a cidade santa de Jerusalém. Para palestinos capoeiristas na Cisjordânia, o muro também significa que, sem autorização especial, eles não tem como participar dos vários grandes eventos e batizados que acontecem em Israel todo ano, que são regularmente atendidos por mestres e professores do Brasil e outros países.

Embora Israel alegue que o muro foi construído por razões de segurança, muitos dizem que Israel tem usado o muro para anexar ilegalmente enormes blocos de colonias localizados dentro da Cisjordânia. Hoje, mais de 600 mil cidadãos judeus-israelenses vivem em colonias em toda a Cisjordânia, incluindo a ocupada Jerusalém Oriental, no meio de mais de 2 milhões de palestinos sem cidadania. Colonos vivem em condomínios fechados e dirigem nas estradas israelenses que são geralmente fora do limite para palestinos da Cisjordânia. Eles são governados pelo Direito Civil israelense, ao contrário dos palestinos, que são governados por uma combinação de administração palestina e controle militar israelense. Colonos também tem acesso priveligiado a recursos escassos na região, como a água.

Capoeiristas de todo o mundo podem ficar surpresos de saber que, apesar de um crescente boicote internacional aos produtos e empresas baseadas nas colonias da Cisjordânia, várias das colonias ilegais de israelenses possuem aulas de capoeira, ligadas a grandes grupos de capoeira geralmente baseados em Israel. Uma lista recente inclui a mega-colonia de Ariel, e mais Oranit, Talmon, Givat Ze’ev e Alfe Menash.

A importância deste fato para o nome da capoeira – uma forma de arte que carrega consigo uma poderosa mensagem de liberdade – não pode ser substimada. Ao oferecer aulas nas colonias, os grupos de capoeira estão lucrando (talvez inadvertidamente) em cima da ocupação e confisco de terras palestinas, e ao mesmo tempo ajudando a normalizar a existência de colonias ilegais israelenses.

“Isto é uma ofensa para a capoeira”, diz Karam, membro do coletivo de Ramallah. “Simplesmente não faz sentido se você pensa sobre o que a capoeira representa.”

A exitência de capoeira nas colonias, com o apoio de vários dos principais grupos israelenses, levanta graves questões para o mundo da capoeira. Existem limites para a expansão mundial da capoeira? A ideia que a capoeira pode ser aprendida por todos –  exceto por “aqueles que não querem aprender”, como na frase famosa de mestre Pastinha – se aplica a ensinar capoeira em todo lugar? As mensagens de libertação da capoeira espalhadas abertamente vão alem da retórica? Será que o boicote internacional de produtos e empresas operando nas colonias ilegais deveria se extender para os grupos de capoeira?

Não existem respostas faceis aqui, mas se nós vamos levar a serio as lições da historia da capoeira, nos parece apropriado pensar seriamente nestas questões.

 

 

The Capoeira Freedom Collective – Palestine is hosting a week-long capoeira tour-event from October 24-November 1, 2013. The tour-event will involve workshops, rodas and tours throughout Palestine, giving capoeiristas both from abroad and the West Bank a rare chance to meet and interact.

“Palestina sim sim sim… ocupação não não não não.” For Palestinians under military occupation, capoeira’s history of resistance sings a special tune. Like many newcomers to the world of capoeira, many Palestinians are simply attracted to the more flashy sides of the art—mortais, au sem maos, bananeiras. But as time progresses, capoeira begins to take on deeper, more profound meanings.

“The more I learn about the history, the more interested I become,” says Zeina, a member of a new collective of Palestinians practicing capoeira in the West Bank city of Ramallah. “The themes in capoeira echo the reality we live as Palestinians: oppression, resistance, longing for liberation.” Though life under occupation is not the same as slavery, Zeina explains that for all oppressed people, “it’s good to hear about the struggles of others; to learn lessons that others learned the hard way.”

Contact [email protected] to join us on the tour.

As capoeira continues to grow and expand across borders, it is worth asking whether the capoeira world in the 21st century has learned such lessons—especially when it comes to the question of Palestine.

Ramallah lies on the eastern side of what many call the ‘Israeli Apartheid Wall’—an enormous barrier made up of electrified fencing and up to 8-meter high concrete columns stretching over 700 kilometers—snaking through Palestinian land. Palestinians with West Bank IDs, including most members of the newly formed Capoeira Freedom Collective – Palestine, are only able to traverse the Wall if they obtain special permits, which are not easy to get.

The Wall’s route runs deep into occupied territory, cutting Palestinians off from relatives, farmlands, the Mediterranean Sea, and the holy city of Jerusalem. For Palestinian capoeiristas in the West Bank, the Wall also means that, without permits, they are cut off from the many large-scale capoeira events hosted in Israel every year, which are regularly attended by mestres and other teachers from Brazil and elsewhere.

Although Israel claims that building the Wall was for security reasons, many say that Israel has used the Wall to annex large illegal settlement blocs located within the West Bank.  Today, over 600,000 Jewish-Israeli citizens live in settlements throughout the West Bank, including occupied East Jerusalem, amidst over 2 million non-citizen Palestinians. Settlers live in gated communities and drive on Israeli roads that are generally off-limits to West Bank Palestinians. They are governed under Israeli civilian law, as opposed to Palestinians who are ruled under a combination of Palestinian administrative and Israeli military law, and are provided with far superior access to scarce resources such as water.

Capoeristas around the world may be surprised to learn that despite a growing international boycott of settlement goods and companies that operate in West Bank settlements, several of the illegal Israeli colonies in the West Bank host capoeira classes, satellites of larger capoeira groups usually based in Israel. A recent list includes the mega-settlement of Ariel in addition to Oranit, Talmon, Givat Ze’ev, and Alfe Menashe.

The significance of this for the name of capoeira—an art form which carries with it such a powerful message of freedom—cannot be understated. By providing classes in settlements, capoeira groups are profiting (perhaps inadvertently) from the occupation and confiscation of Palestinian land while helping to normalize the existence of illegal Israeli settlements.

“It’s an offense to capoeira” says Karam, a collective member. “It simply doesn’t make sense if you think about what capoeira represents.”

The existence of capoeira in settlements with the support of several major Israeli groups poses serious questions to the capoeira world. Are there limits to capoeira’s worldwide expansion? Does the idea that capoeira can be learned by all—except by “those who don’t wish to,” as Mestre Pastinha famously said—apply to teaching capoeira everywhere? Do the widely espoused liberatory messages of capoeira go beyond rhetoric? Should the international boycott ofcompanies operating in the settlements extend to capoeira groups?

There are no easy answers here, but if we are to take the lessons of capoeira’s history seriously, it seems fitting that these questions be given some serious thought.

 

Para maiores informações: [email protected].

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