Associação conta com fila de espera de cerca de 70 pessoas que querem participar das aulas de capoeira

Jovens pacientes superam limites em aulas de capoeira inclusiva na AACD

Inclusão através do esporte para a superação de muitos limites. Essa é a fórmula para um grupo de 35 jovens pacientes da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), na Ilha Joana Bezerra, Zona Central do Recife. Todas as segundas, das 14h às 15h, eles têm encontro marcado com o mestre de capoeira voluntário Severino Santos de Almeida Júnior, o Mestre Júnior, responsável por levar ao universo das crianças a adaptação, do jogo, da luta, da tradição da Capoeira, criada pelos escravos africanos e trazida ao Brasil na época em que o País era uma colônia portuguesa.

O projeto, chamado de capoeira inclusiva, foi levado à entidade em Pernambuco pelo mestre em 2006, após um evento sobre a prática da capoeira na AACD de São Paulo, focada em pacientes amputados. “O que começou meio suspeito é, hoje, uma verdade”, comemora Mestre Júnior, de 44 anos, também professor de educação física e história, com 35 anos voltados à prática desse esporte e sua história, onde ele cita a seguinte máxima dita pelo Mestre Pastinha: “Capoeira é tudo que a boca come”. Confira videorreportagem do NE10:

A dinâmica da aula é desenvolvida após análise da ficha médica de cada aluno, assim como as atividades fisioterapêuticas desenvolvidas com a equipe da AACD. A partir dessa avaliação, o professor trabalha o lado lúdico do esporte e o enriquecimento muscular, já que a Capoeira trabalha o sistema Cardiovascular, Sistema auditivo que por sua vez aguça os reflexos do paciente e o Sistema Neurológico, através da música com os instrumentos da Capoeira (berimbau, pandeiro, atabaque e etc.) e ao som mecânico com CDS de Capoeira, associado aos valores desenvolvidos nos atletas: disciplina, superação e motivação. Apesar das diferentes especificidades, mestre Júnior garante: “A aula de um é para todos”. Para um dos alunos, Pedro Lucas, de 9 anos, conseguir entrar nas aulas, há três anos, foi a realização de um desejo. Entre risos envergonhados, o jovem afirma: “Eu queria muito entrar nesse grupo e minha mãe conseguiu”, conta. Quando questionado sobre de qual parte gosta mais, é taxativo: “Gosto mais de cantar”.

A capoeira inclusiva, além de desenvolver a habilidade social, auxilia na fisioterapia recomendada para cada aluno e contribui com a reabilitação do paciente. É o caso de Brenda Carlla, uma das mais velhas do grupo. “Eu percebi que desenvolvo mais. Antes da capoeira, eu caía muito quando pegava carona em bicicleta, agora não caio mais”, conta a jovem de 17 anos, que desde os dois anos de idade faz tratamentos na AACD e começou as aulas com o mestre Junior há seis anos. As aulas semanais são aguardadas ansiosamente não apenas pelos alunos, mas também por suas mães. Para Jacira Muniz, 45 anos, mãe de Thiago, de 14 anos, os resultados são gratificantes. “A gente que é mãe vê a evolução. A questão que ele faz de vir. Ele até mostra os movimentos que aprendeu. A capoeira faz a diferença”, comemora Jacira, que se dedica exclusivamente aos cuidados com o filho.

Marília Lima, 31 anos, mãe de José Ricardo, 7 anos, chegou a pensar em desistir de acompanhar os filhos na aula. O pequeno é portador da Síndrome de Lesch-Nyan, uma doença hereditária e metabólica rara que causa disfunção neurológica, cognitiva e alterações de comportamento. “Eu queria desistir, mas o mestre não deixou. Com a continuidade, ele melhorou bastante. Antes de entrar na capoeira, quase não tinha contato com outras pessoas. Agora, ele até pede para vir”, conta.

“Para mim foi muito importante. O pouco que eu consegui é muita coisa”

O outro filho, Matheus Guilherme, de apenas um ano e nove meses, também é portador de Lesch-Nyan. Se depender da mãe, será o mais novo paciente a ser apresentado ao poder de reabilitação da capoeira inclusiva.

Pedro Lucas já participa da capoeira inclusiva há três anos. O que mais gosta nas aulas é de cantar

AULAS – Para participar das aulas, o aluno precisa ser paciente AACD e enfrentar uma fila de espera com cerca de 70 pessoas. O requisito para começar o tratamento na entidade é a apresentação de um laudo médico que comprove a necessidade do paciente em realizar procedimentos de reabilitação física.

 

Além das aulas semanais, a instituição promove o Encontro de Capoeira Inclusiva. O evento marca o batismo e a troca de cordas das crianças e adolescentes que formam o grupo de capoeira da AACD. “Temos desde a graduação infantil especial, que são seis cordas, até a graduação adulta, com nove cordas”, explica Severino Júnior.
A Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) é uma instituição sem fins lucrativos que atende crianças e jovens de 0 a 16 anos com deficiência física e adultos amputados e lesionados.

Inaugurada em 1999, a AACD Pernambuco já ultrapassou 149 mil consultas clínicas e 833 mil terapias realizadas para crianças de todo o Norte e Nordeste. Atualmente, é mantida através de parceria com o Sistema Único de Saúde (SUS) e realização de projetos com venda revertida à instituição.  Para marcar a triagem específica para cada patologia na AACD, o paciente ou seu responsável deve apresentar ao setor de Serviço de Atendimento Médico e Estatístico (Same) um relatório médico que descreva o diagnóstico e tratamento realizado na fase aguda ou inicial da doença, além das condições atuais em que o paciente se encontra. Após avaliação de uma equipe multidisciplinar, será elaborado o tratamento de reabilitação na AACD. Se por acaso a patologia não for tratada na associação, o paciente e família são orientados a realizarem o tratamento em instituições especializadas na deficiência relatada.

 

AACD Pernambuco
Endereço: Avenida Advogado José Paulo Cavalcanti, 155, Ilha Joana Bezerra Recife  Telefone: 3419.4000

Mestre Junior: (81)977018889/86192109

Foto: Malu Silveira / NE10

 

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