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Crônica: “A Arca da Capoeira”

Ela está com a rampa aberta para você subir!
 
Indivíduos estimulados a agirem sozinhos! Foi assim comigo, contigo e acontece com as mais novas gerações. Lembrem-se das avaliações escolares. Os castigos mais severos recaiam sobre os alunos que mais conversavam. Nossas classes de aulas, ainda possuem cadeiras enfileiradas, isoladas, ou seja, umas atrás das outras. O que se enxerga são as costas de nossos colegas quando deveríamos olhar nos olhos. Fomos, e ainda somos objetos em que se busca o sucesso, o status, e o dinheiro. Desde os primeiros anos na vida escolar, e até nos próprios berços, cercados de “caros badulaques” para que não choremos; o que espera é um cidadão “vencedor” que irá ter um ótimo emprego com altos salários e vivendo todo o capital que Karl Marx já havia previsto.
 
Nas escolas passamos em média 15 anos sentados em um espaço de aproximadamente meio metro quadrado ouvindo, ouvindo e ouvindo. Às vezes falamos, mais aí somos advertidos. Quando estamos prontos para começar a ter o tão sonhado sucesso, viramos máquinas. Máquinas de produzir, bater metas e buscar “benz” materiais. Mercedes-Benz!!! Se for BMW está valendo. Ah, e na maioria dos casos ainda continuamos sentados por mais 30 ou 40 anos. Só iremos levantar quando não temos mais idade nem para caminhar durante dez minutos.
 
Manfred Eigen, Prêmio Nobel de química em 1967, citou em seu livro O jogo: as leis naturais que regulam o acaso, que a sociedade humana organizada seria algo que superaria a individualidade. Não desmerecendo a conquista da individualidade, mas afirmando que é necessário superar o estado atual, autocentrado no indivíduo, para atingir o estado de descentralização, na qual se vive cooperativamente, de modo que o individual jamais é superior ao coletivo, e o coletivo, por sua vez, não suprime o indivíduo. Mas infelizmente não é isso que aprendemos em nossos caminhos cognitivos.
 
E será que é isto que ensinamos enquanto educadores, professores, mestres, doutores e porque não sonhadores? Será que estamos atentos à necessidade do coletivo em contrariedade ao individualismo? Pausa para análise… continuando… Mesmo próximo aos nossos olhares, o treino para vivermos a sós é alimentando fora das escolas e das salas,ou melhor; “senzalas de aula”. Os alunos passam boa parte de seu tempo fora das escolas em frente a computadores e televisores. Num aparente contato com o mundo. Frio e sem emoção. Infelizmente (e não gostaria de escrever novamente esta palavra ao menos neste ensaio) condicionados a não fazer bom uso dos avanços que a tecnologia nos possibilita.
 
 
No início de outubro deste ano o consultor de recursos humanos Ary Itnem Whitacker, de 46 anos, saiu em pleno horário de almoço na Avenida Paulista, a mais movimentada de São Paulo, carregando uma placa em que se está escrita, em letras garrafais, a frase “Dá Um Abraço”. Fazendo uma alusão de como a tecnologia criou um mal chamado de “inércia do afastamento”. O leitor deve estar se perguntando onde quero chegar com este papo de individualismo, isolamento tecnológico e rede de ensino equivocada. É simples, basta pensar em quanta gente nós conhecemos sem ao menos ouvir a voz. Pense, reflita!!! Loucura esta realidade que até certo tempo atrás não passava de ficção. Os avanços tecnológicos são positivos para nosso momento. Sim, são excelentes! Estas palavras só chegam até vocês através deles. Só precisamos utilizar estes recursos para um lugar comum. Um lugar bacana que talvez tenha o nome de “United City”, ou melhor, a Cidade da União. Particularmente para a nossa classe de trabalhadores braçais e gladiadores urbanos, os capoeiristas, esta “cidade” seria muito promissora, independente de partidos políticos e com legislação autônoma criada por nós. Será que estou viajando muito??? Voltando á www, quanta gente bacana eu não conheci pela tal internet. Quer dizer, tal sou eu, pois a internet é mais conhecida que qualquer um de nós. Talvez eu não possa dar um abraço num amigo virtual ou até mesmo desenrolar um jogo, numa roda real; concreta. Mas posso fazer uma chamada para um laço que há tempos está atado. Um laço que se desfaz com uma boa negaça levando ao chão as mãos de nossos nobres capoeiras e indo de encontro ao nosso sentido de coletividade. É aquele mesmo ideal coletivo que nos negaram há certo tempo atrás. Não podemos nem culpar ninguém por isso. Não houve estimulo para caminharmos todos juntos. Mas ainda há tempo!
 
O cérebro está em perfeita atividade e o coração ainda bate forte e compassado e estamos todos no mesmo barco. Talvez ele nos lembre um conhecido por aí como Arca de Noé. Um barco que não quer contar com tripulação distinta ou desunida. Não tem brasão ou escudo definido. Mas sim um barco que nos conduz para uma vida mais gratificante. Um barco que deve seguir mesmo que para isto tenhamos que empunhar os remos e trabalhar em sincronia. Um grande barco que apesar do “cheiro” de navio negreiro deve ainda carregar esta história. Não a negando; mas sim a enaltecendo. Uma embarcação que tem nos seus porões gente de todo tipo, não amarradas mas desamarrando tristeza, ódio e vaidades. Um grande barco para o ensino, os estudos e a reflexão e porque não para a recolocação social para ser simplista. Talvez Zumbi dos Palmares tenha tentado construir este barco e aguardava no quilombo, juntamente com sua tripulação, o momento certo de levá-lo ao mar. Um barco que seguirá o seu rumo dependendo de nossas metas e de como estabelecemos esta rota.
 
Um grande e lindo barco chamado apenas de CAPOEIRA!
 
Professor Beija-Flor
São Bernardo do Campo/S.P
Link: http://bfcapoeira.vilabol.com.br
e-mail: [email protected]
Projeto Beija-Flor Capoeira Para Todos e Grupo de Capoeira Macungo

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