MENINO QUEM É TEU MESTRE ?
Nossa reflexão começa a partir destas definições acima, pois se faz necessário, mais do que nunca, tentarmos desmistificar a figura do mestre de capoeira, pois só assim conseguiremos modificar grandes equívocos que ocorrem no processo de formação de cada discípulo. Vale a pena ressaltar que este artigo não pretende de maneira nenhuma esgotar o assunto nem se firmar como verdade absoluta, mas sim servir de base para estimular algumas reflexões sobre a arte capoeira e seus “condutores”.
Em minha jornada pela capoeira da Bahia, seleiro dos maiores mestres no Brasil e no mundo, sempre me deparei com situações que até hoje não consigo compreender a lógica norteadora, mestres que obrigam os alunos a lhe chamarem de mestre, mestres onipotentes de uma saber fantasioso que só existe em seu imaginário pessoal, mestres incapazes de se reconhecerem como humanos e outro como irmão, mestres que articulam contra as novas gerações por medo do novo e etc… Infelizmente este é o retrato mais atual da capoeira da Bahia, contudo nem tudo está perdido, pois a capoeira está em constante processo de transformação e ao contrário do que muitos “mestres” pretendem, a formação de seus alunos não é restrita só a ele, mas sim a todo um contesto que está despertando para um novo rumo.
Precisamos compreender que mestre não é aquele que diz certo ou errado, mas o que lhe conduz ao entendimento do erro e do acerto, mestre não é aquele que avalia o produto final, mas aquele que participa do processo de construção, mestre não é aquele que se firma por que é divino e sim pela sua condição humana, mestre é aquele que compreende o erro do discípulo como uma tentativa de acerto, mestre não é aquele que está sempre certo, mas o que está disposto a discutir seus erros e acertos, mestre é aquele que………
A capoeira, caros amigos, não precisa de líderes e sim de mediadores, pois todo processo herdado da sociedade africana infelizmente foi interpretado e está sendo praticado de maneira equivocada, o respeito ao mais velho, como fonte de saber, só tem sentido mediante o respeito ao mais novo e ao contemporâneo, portanto precisamos tornar as relações entre mestres e discípulos mais flexíveis, horizontalizadas e verdadeiras, pois só desta maneira conseguiremos harmonizar a formação de nossos futuros mestres.
{mosimage}E importante que cada mestre reflita profundamente, a cada dia sobre sua pratica pois o que lhe dar a condição de mestre é também o fato de poder contribuir com a formação de outros, haja vista que não existe mestre sem discípulo. Por um outro lado cada discípulo precisa compreender que, ao contrario do que se pensa, o mestre surge de dentro para fora, como uma flor que precisa ser regada para crescer forte e bela, não sendo necessário, no meu entendimento depositar nas mãos de terceiros o que nos fomos, somos e seremos, mas sim reconhecer nestes terceiros uma possibilidade a mais de contribuição em nosso processo de formação.