Cultura afro é destaque em feira etnomatemática
Estudantes do ensino médio e fundamental da Escola Estadual Alberto Torres, no bairro de Bebedouro participaram no último sábado (13), da I Feira Afro Matemática, realizada a partir do projeto Pérola Negra Brasileira: História, importância e lutas do povo negro. Conheça e se orgulhe!, idealizado pelo professor da disciplina Allex Sander Porfirio. O evento também se estendeu para as disciplinas de física, religião e história e contempla a Lei Federal 10.639/03, que obriga a inclusão da história e cultura afro-brasileira e africana no currículo educacional.
Abordando uma temática diferente da qual estão acostumados em sala de aula, sete turmas, divididas em cinco equipes: música afro; búzios e capoeira; África: O berço da matemática; Eu tenho um sonho (Sobre Martin Luther King); e poemas de matemática demonstraram, por meio de peças teatrais, danças e paródias a relação que os assuntos têm com o continente africano, ressaltando os equívocos que existem até mesmo no ensino escolar.
A matemática também foi retratada através de poemas de Millôr Fernandes, em seqüências musicais africanas – que comemoravam boas colheitas e nascimentos – e ainda, em instrumentos como o reco-reco, utilizado por negros e índios.
Segundo o professor Alex, os sistemas de numeração, probabilidade e até de engenharia tiveram origem no continente africano, a exemplo da construção das pirâmides do Egito. "Os estudantes se mostraram entusiasmados para a realização da feira e tiveram a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a verdadeira história da matemática".
A estudante Jeisiane Milane, do 2° ano do ensino médio, mostrou junto com os colegas de turma, a relação numérica implícita no jogo de búzios e na capoeira e disse que antes não sabia que a matemática também fazia parte da cultura afro. "A capoeira tem passos que simbolizam figuras geométricas, como o triângulo e o círculo e nos búzios existe uma relação de probabilidade. Alguns dos estudantes tiveram até medo de pegar neles, por causa da forma como a religiosidade é ensinada, mas atividades como essa servem para acabar com o preconceito", conta a estudante.
Já o estudante do 1° ano, Igor Fernando disse que o trabalho serviu para que ele conhecesse mais sobre a matemática, que é discriminada e tida como difícil de aprender. "Ela não surgiu na Grécia, porque antes os africanos faziam traços com ossos, que serviam como calendário lunar e também davam uma quantidade de nós em cordas, para lembrar quando emprestavam alguma coisa, explica.
Para a professora de religião Heloísa Lima, que ministra a disciplina há três anos na escola Alberto Torres, mostrar que a religião afro é diferente do que as pessoas estão acostumadas a aprender tem sido uma tarefa difícil, porque existe grande resistência por parte de alguns alunos, pais e até de professores, que são evangélicos ou católicos.
"No último ano, devido a estarem mais acostumados com o tema os estudantes tiveram facilidade para aceitá-lo, já que na disciplina abordamos a história das religiões e mostramos que algumas Deus têm vários nomes e símbolos. Mas, ainda existe um contexto histórico que faz predominar a discriminação e esse é um trabalho de conscientização, ressaltou Heloísa.
A etnomatemática surgiu na década de 70, com base em críticas sociais acerca do ensino tradicional da matemática, como a análise das práticas matemáticas em seus diferentes contextos culturais. Pode ser entendida como um programa interdisciplinar que engloba as ciências da cognição, da epistemologia, da história e da sociologia.
Fonte: www.cojira-al.blogspot.com