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Luiz Fernando Goulart, diretor do filme

depoimento do diretor:
O mundo da capoeira me era totalmente desconhecido até dois anos atrás quando fui convidado para dirigir MESTRE BIMBA – A Capoeira Iluminada. Mesmo me reconhecendo como um apaixonado pela cultura brasileira, confesso que a capoeira não me encantava até então. Pouca coisa sabia dela. Quando ouvi o nome Mestre Bimba apenas relacionei-o à capoeira, mas nem sei porque. Pedi dois dias para pensar e decidir se largaria os projetos aos quais me dedicava. Acho que a internet me salvou. Ao escrever num site de buscas o nome capoeira me vieram 1 milhão e 400 mil citações em praticamente todas as línguas. Bem, não consegui dormir esta noite e na primeira hora telefonei correndo para aceitar o convite. O universo da capoeira me pegara, ainda que de longe. Daí pra frente o meu envolvimento com o projeto foi total. Era como se eu estivesse vivendo realmente uma grande paixão, querendo descontar o tempo que eu perdera desconhecendo uma das maiores forças culturais e políticas que o nosso país possui. Passei a me corresponder, nas línguas possíveis, com capoeiristas de todo o mundo, assessorando o roteiro que estava sendo feito pelo Luiz Carlos Maciel e não vendo a hora de mergulhar no universo do Mestre Bimba. Decidi utilizar o meu grande desconhecimento da capoeira e da figura do Mestre Bimba como base para a narrativa do filme. Cheguei na Bahia, corri todas as rodas possíveis mas evitei falar de Bimba. Eu queria conhecê-lo quase que junto com o espectador. Eu tinha apenas a impressão que me encantaria por sua figura e sua história mas quis procurar mostrar, antes de tudo, a emoção e a magia que me tomavam naqueles momentos pré filmagens em Salvador. Começamos as filmagens pelos depoimentos dos alunos de Bimba. Depoimentos previstos inicialmente para meia hora, duravam 5 a 6 horas. Sempre que alguém se lembrava do Bimba que conheceu se emocionava e nos envolvia a todos, da equipe. Fui também me envolvendo com aquela história maravilhosa de um homem cujo grande ideal foi tirar a capoeira, um jogo proibido pelo código penal vigente em sua época, de baixo do pé do porco, como gostava de dizer. Um homem analfabeto mas que foi reconhecido “post mortem” como Doutor Honoris Causa de uma importante Universidade, por unânimidade, em reconhecimento ao seu trabalho de educador. Um homem que foi capaz de ver, ainda nos anos 30, a capoeira sendo jogada no mundo todo, como a única arte marcial que se joga acompanhada por música e uma das poucas onde o objetivo não é machucar ou agredir o adversário. A única pratica esportiva nascida em nosso país e que, presente no mundo todo, jamais deixou de ser brasileira e de falar português. Uma das maiores fontes de viabilização de cidadania para brasileiros desassistidos e jovens em situação de risco social. Vi muita história bonita sendo contada. Muitos olhos que brilhavam à simples referência do nome Bimba. Muita mente brilhante e realizada que nos disse, com lágrimas nos olhos, que tudo que conseguira na vida fora graças ao seu mestre. Tudo isso foi Bimba que propiciou, ao dar a sua luz à capoeira e ver nela o instrumento de educação que hoje, o mundo todo reconhece. E é isso que eu procurei passar para os que assistirem ao filme, a mesma emoção que eu vivi descobrindo Bimba e a capoeira.

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