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OS AGARRAMENTOS NA CAPOEIRA

Os agarramentos são, como sempre foram, proibidos durante a prática da capoeira, especialmente por impedirem a sintonia com o rimo musical, condição sem a qual não podemos conceber a capoeira baiana.
As palavras manuscritas de Mestre Pastinha, abaixo reproduzida em imagem escaneada e transcritas da página 43, do vol.3, da "Coleção S. Salomão", "A herança de Pastinha", editado por Decanio, demonstram esta tradição ainda conservada pelos atuais praticantes do estilo "angola".
 

1.4.42 – …"é falta usar as mãos"…

"Todos os mestres tem por dever fazer ciente que é falta usar as mãos no seu adversario; se não fizer assim, não prova ser mestre, os que tem educação prova a sua decensia jogando com seu camarada e não procura conquista para enporcalhar seu companheiro, já é tempo de compreender, ajudar do seu esporte, é a judar a moralisar; levantar a capoeira, que já estava decrecendo."
(12b, 1-10)

… aparece aqui a única diferença…
… entre os estilos de Bimba e Pastinha…

… Bimba…
… ao criar um sistema de ensino da capoeira…
… instrumento de luta…
… abandonou a tradição…
… de não usar golpes traumáticos de mão…
… permissão estendida aos balões e projeções…
… bem aceitos e estimulados…
… pela difusão das técnica orientais…z
.. no meio social em que pontificava…

Embora a Luta Regional Baiana permitisse o emprego das mãos durante a sua prática, Mestre Bimba não admitia que o capoeira permanecesse imobilizado, parado ou agarrado porque nesta condição estaria desprotegido e exposto como alvo às armas, branca ou de fogo, bem como a outros tipos de ataque.
Os chamados treinos de agarramento, secretos, na verdade eram treinos para não se deixar agarrar, prática de manobras para se desvencilhar dos adversário, adequada para a defesa pessoal ou eventual confronto físico com adversário conhecedor destas técnicas.
Enquanto um praticante ficava em posição vulnerável, habitualmente sentado ou deitado no chão, um ou mais parceiros tentavam segurá-lo e mantê-lo imobilizado.
O objetivo do treino era desenvolver os reflexos, a resistência, a potência e calma indispensáveis à libertação da imobilização, estrangulamento, agarramento, presa, presilha ou chave, recuperando a plena mobilidade para a defesa pessoal.
A instrução genérica era pegar o adversário e jogar no chão (… com força naturalmente) ou sacudi-lo instantaneamente, com violência, ante o menor esboço de tentativa de apresamento, sem deixar "fechar" o golpe.
Como dizia o Mestre: "Gorpe ligadu só funciona se você deixá garrá."<golpe ligado só funciona se você deixar agarrar>
O capoeirista se caracteriza pela agilidade e intangibilidade quase mágicas, tem que ser como o vento, parece que está em toda parte e ao mesmo tempo em lugar algum, sacode, agita, derruba, destrói.. mas não se deixa pegar!
Quem gosta de se agarrar é ‘ganhamun’ e siri, por isso se deixam pegar… e terminam na panela, diziam os antigos.
O capoeirista não carrega para derrubar, pois seu ancestral direto, o carregador não deve deixar cair sua carga… só se escapulir…
Entre os antigos, aqueles menos eficientes, tecnicamente deficientes, porém dotados de maior corpulência, eram os que procuravam agarrar os melhores de técnica e mais franzinos, na esperança de imobilizá-los…

… com medo de apanharem ou caírem…

Mesmo durante as projeções em jogo de capoeira do estilo regional, não se pode parar para pegar, nem tampouco "carregar" o parceiro… "é pegar e jogar"!
Um bom capoeirista, por definição e princípio;deve possuir técnica e manha, indispensáveis para conduzir seus alunos e parceiros, à armadilha em que se enredarão!
Cumprindo assim o triste destino que os aguarda ao final de cada volta do mundo!

Capoeirista não derruba!
… só faz armar o laço…
… o bobo é que cai!

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