Transe de Orixás
O encéfalo humano ao entrar em sintonia ou ressonância com determinados ritmo-melodias tem o potencial de modificar o estado de consciência, manifestando então propriedades psicossomáticas ou padrões de comportamento individuais ligados à estrutura e ao funcionamento do Sistema Nervoso Central (SNC), vinculados sobretudo à constituição anatômica e funções do tronco cerebral.
A estes padrões de comportamento induzidos pelo efeito mântrico do ritmo-melodia do atabaque e cânticos, os antigos africanos denominaram de “orixás”, “inquices”, “vodus”, etc. de acordo com os diferentes dialetos e grupos lingüísticos.
As diversas categorias de comportamento foram agrupadas consoante paradigmas comportamentais de personagens míticas, históricas ou ancestrais, cujas características pessoais aparentemente eram assumidas (manifestadas) pelo personagem atual.
Tudo se processava como se o ancestral retornasse do mundo oculto (imanifesto) e assumisse o controle do corpo do personagem atual, caracterizando-se então o arquétipo como uma divindade.
No Brasil os adeptos do candomblé e de umbanda denominaram de “estado de santo” ao estado modificado de consciência induzido pelo ritmo-melodia adequado.
De modo similar, o ritmo “ijexá” [1] conduz os capoeiristas a um estado similar, que denominamos de “estado transicional de capoeira” ou “estado de capoeira”, diferenciando-se este último por não obedecer a padrões comportamentais padronizados e sim pela manifestação das características individuais de cada praticante.
O fenômeno aparentemente consiste na manifestação pelo ator de suas propriedades ou características humanas individuais, especificas ou particulares, ligadas à estrutura e funções do seu paleocórtex (cérebro interno, Innere Gehirne de Kleist) liberadas do controle das estruturas mais recentes do neocórtex, responsáveis pelas superestruturas psicossociais (Gemeinschaft-Ich e Welt-Ich, Eu Moral e Eu Social, de Kleist).
Ø Em outras palavras, o ritmo ijexá libera o cérebro emocional do controle das funções racionais e permite a manifestação do arquétipo humano (hominal) através a linguagem gestual da capoeira, pelo bloqueio do controle dos circuitos responsáveis pelos freios psicossociais.
o Processo que abre a perspectiva de criação de circuitos vicariantes capazes de suprir deficiência ou ausência de outros lesados e/ou deficientes, que poderão posteriormente ser adicionados aos lobos frontais, tornando possível retomar os controles voluntários, tornando compreensíveis algumas melhoras clínicas inexplicáveis sem esta hipótese.
Observações finais:
Pesquisar e desenvolver a importância relativa de:
- Infra-sons do atabaque
o Existem?
o Impressionam o tato?
- De outros instrumentos musicais
- Da palavra e solfejo
- Sensibilidade individual
- Influência carismática do líder
- Influência interpessoal da comunidade (campo mental coletivo)
- Papel do equalizador emocional
Transe de orixás
[1] Um dos toques musicais de candomblé, raiz musical de várias manifestações populares áfrico-brasileiras (capoeira, batuque, samba de roda, afoxé)
Decanio Filho, A. A.
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