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A dívida da República com a capoeira

Repercussão: I Seminário do Projeto Capoeira Viva
 
Os principais mestres brasileiros de Capoeira estiveram reunidos nesta terça-feira, dia 21 de novembro, durante o I Seminário do Projeto Capoeira Viva, no Museu da República, no Rio de Janeiro.
O seminário faz parte do projeto que repassará R$ 930 mil para iniciativas qualificadas que procuram fazer o reconhecimento da capoeira como uma das mais importantes manifestações culturais do país. Idealizado pelo Ministério da Cultura, com coordenação técnica do Museu da República e patrocínio da Petrobrás, o projeto apóia oficinas, pesquisas, acervos culturais, e atividades que usam a capoeira como instrumento de cidadania e inclusão social. O Capoeira Viva é o primeiro programa oficial de valorização e promoção da capoeira como bem cultural brasileiro.
 
O mediador dos debates foi o professor titular e coordenador do Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da qual já foi diretor, e presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Muniz Sodré, que é autor do livro Um Vento Sagrado, que narra a trajetória de Agenor Miranda Rocha, professor e líder do Candomblé. A primeira palestra versou sobre A formação do mestre, ontem e hoje, com a participação do mestre Camisa (José Tadeu Carneiro Cardoso), fundador do Grupo Abadá-Capoeira e criador do CEMB, onde se desenvolve o projeto Capoeira Ecológica, que dividiu a mesa com mestre Moraes (Pedro Moraes Trindade), presidente fundador do Grupo de Capoeira Angola Pelourinho e com o mestre Suino (Elto Pereira de Brito), presidente-fundador do Grupo Candeias. No período da tarde, a palestra De arma da vadiagem a instrumento de educação reuniu a mestra Janja (Rosangela Costa Araújo), fundadora do Instituto Nzinga de Estudos da Capoeira Angola e Tradições Educativas Banto no Brasil (Incab); mestre Luiz Renato (Luiz Renato Vieira), membro do Grupo Beribazu e do Centro de Capoeira da UnB; mestre Zulu (Antonio Batista Pinto), autodidata em Capoeira e Educação Física, pesquisador e autor do livro Idiopráxis de Capoeira.
 
O investimento quase milionário do projeto Capoeira Viva justifica-se também pela sua vertente sócio-econômica. A importância da capoeira hoje transcende a questão cultural, mostrando-se também importante bem econômico, que gera emprego e renda para muitos, além de abranger uma crescente indústria de artefatos relacionados à sua prática em escala planetária. Para se ter idéia de sua disseminação pelo mundo, e o conseqüente potencial econômico global, há grupos de capoeira espalhados por todos os países membros da ONU, a grande maioria deles com mestres brasileiros ou com mestres que estudaram com brasileiros. Há federações de capoeiras em vários países desenvolvidos, como França e Eua, por exemplo. Assim, além de importante elemento de identidade cultural brasileira, que cada vez mais se espalha pelo mundo, a capoeira brasileira tem gerado riqueza no Brasil e no exterior.
 
Saldando uma dívida histórica
 
O Museu da República foi escolhido pelo Ministério da Cultura para sediar este projeto pelo caráter simbólico que o ato promove. Na história da República no Brasil, o respeito aos princípios republicanos não foi a máxima adotada em vários períodos da vida política de nosso país. A Capoeira é um triste exemplo do não respeito à cultura brasileira, principalmente a dos mais pobres e dos negros, cidadãos do Brasil.
 
Dança, jogo, luta e expressão cultural dos negros escravos, foi perseguida pela Polícia do Estado Republicano, considerada ato criminoso, e associada a uma infinidade de preconceitos e atos discriminatórios. O Museu da República, que foi a sede da Presidência da República do Brasil, de 1897 a 1960, resgata esta dívida republicana e reconhece a Capoeira como uma expressão brasileira de valor imprescindível para o Patrimônio Cultural Nacional.
 
Países com tradições bem mais antigas, como a China em relação ao Kung Fu, por exemplo, já incorporaram à sua identidade cultural o que era tido, in illo tempore, como uma potencial ameaça à firmação de alguma forma de Estado. Na antiguidade deste país, os exércitos reais formados por praticantes de artes marciais estavam sempre no encalço de bandos de também lutadores que ofereciam algum tipo de desobediência, fosse brandamente na bandidagem, fosse ostensivamente na oposição direta ao Estado com a formação de grupos mercenários. Mesmo séculos mais tarde, durante a implantação da Revolução Cultural, os mestres e discípulos de artes marciais foram mantidos sob estreita vigilância pela Guarda Vermelha de Mao Tsé Tung. Hoje, os mestres vivos são considerados, pelo Estado, jóias da cultura chinesa.
 
No Brasil, tardou esta integração que agora parece definitivamente alavancada pelo projeto Capoeira Viva. Ficaram famosos bandidos românticos que lutavam capoeira e rodavam navalha, como o famigerado Madame Satã. Mas isso em um tempo em que, para eles, as armas possíveis eram só essas. Hoje, com AR-15s a garnel nos morros e vales, a capoeira já não assusta como há um século. Está pronta para libertar-se de vez do preconceito que a acompanhou e ganhar mais espaço no cotidiano brasileiro. Espera-se vê-la, cada vez mais, em áreas livres nas cidades, campos e praias, em estudos e publicações a seu respeito, nos grupos que se ramificam por todo planeta, no imaginário dos livros e filmes, nas matérias jornalísticas da grande imprensa e em todos os lugares em que ela possa ser, enfim, reconhecida como um tesouro imaterial de nosso povo, uma das jóias negras de nossa identidade.
 
"Esse projeto é pioneiro. O viés dessas ações servem para entender exatamente a matriz da constituição brasileira, e foi uma surpresa para nós quando verificamos que a capoeira é um bem cultural muito maior do que se imagina", diz o coordenador responsável pelo projeto, Rui Pereira. "A capoeira não é só um jogo, uma luta, uma roda, uma dança. Ela serve de link para a tradição da cultura negra se manifestar. Em muitos lugares, o único veículo de informação sobre ancestralidade é a capoeira, então, percebemos que ela é positivamente o embasamento para a raiz da cultura"
 
Segundo ele, o projeto favorece os capoeiristas, que encontram incentivo para ampliar e divulgar a capoeira, além de beneficiar o próprio povo brasileiro, que passa a compreender a importância das rodas de capoeira como bem cultural.
Fontes:
 
Portal Capoeira
 
Ministério da Cultura
www.cultura.gov.br
 
Folha de Sambaiba – Tocantins
http://www.folhadesambaiba.com.br/Noticia332.htm

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