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Pela valorização da cultura negra

A história da capoeira e a linguagem usada nos cânticos estão agora em dicionário. A obra, que foi apresentada no Mindelo durante o 1.º Festival de Capoeira, é da autoria do jornalista e professor brasileiro Mano Lima.
 
Através de mais de mil verbetes, o Dicionário de Capoeira coloca à disposição de alunos e professores factos históricos sobre esta luta-dança, curiosidades e os dados mais recentes sobre a internacionalização da capoeira.
 
Editor da revista “Capoeira em Evidência”, que é publicada em Brasília, Mano Lima observou ao longo dos anos que “as novas gerações querem praticar capoeira, mas não se preocupam muito com a sua história e origem”. Lima decidiu, por isso, produzir um dicionário que servisse de material didáctico tanto para quem ensina como para quem aprende capoeira. São 1.600 verbetes relacionados com factos históricos, nomenclatura de blocos e grupos de capoeira, grandes figuras e gírias desta modalidade.
 
A primeira edição já está esgotada graças a vendas nos quatro cantos do mundo, mas permitiu a Mano Lima constatar um facto interessante: “A prática da capoeira está motivando o estudo da língua portuguesa”. Esta é uma aprendizagem que se faz primeiro de forma informal, através dos cânticos entoados nas rodas de capoeira, e depois em aulas formais. “Em muitos países, entre eles a Austrália e o Japão, há já classes com um professor a ensinar o português nas próprias escolas de capoeira”, afirma Mano Lima.
 
Mas, além de promover a língua portuguesa, a capoeira está também, de acordo com Mano Lima, a derrubar os preconceitos que ao longo dos séculos rodearam os negros e a sua cultura. “A semente da capoeira atravessou o oceano Atlântico a bordo dos navios negreiros e germinou no Brasil. Agora, a semente que foi levada para o Brasil está a ser replantada pelos brasileiros em África e outros cantos do mundo, divulgando e valorizando simultaneamente a cultura do continente negro”, declara o jornalista.
 
Valorização que começa no seio das comunidades negras e/ou mestiças, que passam a assumir as suas origens étnicas e culturais. Porque, alega Mano Lima, “uma das heranças malditas da escravidão é o preconceito não só dos brancos para com os negros, mas também destes contra si próprios. A consequência é uma série de comportamentos de negação da sua identidade”. Negação da cor da pele, textura do cabelo, tipo fisionómico, etc.
 
Um dos episódios mais recentes envolveu o jogador de futebol brasileiro Ronaldinho, quando de uma visita sua ao país natal. Mano Lima conta que “quando Ronaldinho foi questionado se se orgulhava da sua herança negra, ele foi extremamente ríspido com o repórter e respondeu que a pergunta era uma burrice. Ou seja, ele não assumiu as suas origens sociais e étnicas, negou-as”.
 
Mas esses preconceitos, afiança Mano Lima, estão sendo aos poucos dissipados, quanto mais não seja através da capoeira. E, aqui, o jornalista destaca o trabalho que o mestre Carlos Xéxeu está a fazer em Cabo Verde.
TSF
 
Fonte: A Semana Online

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