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Évora, um novo capítulo na Capoeira. O verdadeiro encontro de Bambas!

Évora, um novo capítulo na Capoeira. O verdadeiro encontro de Bambas!

Um novo tempo… ou o resgate dos velhos tempos??!!

Após minha participação no último Nosso Encontro em Évora, incrível cidade medieval portuguesa, tombada e conservada com seu ancião estilo urbano, mantendo inclusive seus muros tradicionais da época, em setembro último (2017), me recolhi na expectativa de relatar o que vi e vivi naqueles dias que ali estive. Era um impasse que me colocava num dilema: ou o que eu vi estava completamente fora da realidade da capoeira atual, ou nós, lato senso da capoeira, estamos equivocados em algum ponto!

Pensei, pensei e repensei…!
O que está errado com a nossa Capoeira…!?
Évora, me trouxe uma felicidade e, ao mesmo tempo, uma angústia…!
Me fez perceber que estamos fazendo uma coisa errada, des-encaminhando nossa capoeira para rumos equivocados e provavelmente sem volta!

Mas demorei muito procurando a maneira certa de falar sobre isso…!
Não quero briga com nossos milhões de felizes jogadores de perna, hoje chamados de capoeiristas, espalhados pelos quatro cantos do Brasil, como também mundo afora!
Não quero criticar ninguém!

Quero apenas ser sincero e se possível útil a essa Arte Secular que abracei e que me abrigou em seu seio generoso de verdades, de mandingas e de tanta energia!

Estava ali, vendo aquela roda cheia de estrangeiros, em plena Praça do Giraldo, Centro de Évora, onde uma centena de pessoas disputavam, tanto a oportunidade de se expressar naquela roda, ou simplesmente assistir e se deleitar, com os jogos que iam acontecendo, contagiando a todos com sua beleza e, principalmente, com a emoção que despertavam…!

Emoções fortes rolaram…
Quedas incríveis…!
Entradas perfeitas e saídas competentes… no tempo milimetricamente certos…!
Havia algo que eu não via há longo tempo. E nem me considero tão antigo assim!
Havia um equilíbrio, uma verdade de roda e uma aceitação diferenciada pelo prejuízo que alguém levava durante os jogos!

Onde andaria esse espírito de jogo… que ninguém interrompe quando o jogo flui…?
Onde estariam esses nossos bambas de capoeira, que aceitam quando tomam um prejuízo e não se tornam – como se tornou comum – agressivos…!!?
Onde estariam nossas rodas de capoeira em que todos vibram com os jogos, mas não tentam desprezar quem levou desvantagem?

Eram muitas perguntas que me vinham.

Mas faltava uma questão básica:
o que havia de estranho em nossas rodas de capoeira desde o início da Capoeira Regional de Mestre Bimba, e essa realidade que estamos vendo proliferar nas nossas rodas…!!??

 

 

Algumas luas depois de minhas inquietações, eu finalmente entendi o que estava errado:

  • Estamos traindo a causa primeira que Mestre Bimba viu na capoeira, a da objetividade… do jogo efetivo… o jogo de resultado… o fim da capoeira estéril, falsa, sem força e sem expressão… vendida em qualquer esquina do planeta hoje… sem disciplina e sem profissionalismo!

Pois a verdade é que estamos vendo prosperar uma capoeira sem graça!
Estamos misturando nossa necessidade de nos expressar, de nosmostrar nas rodas, de uma forma tão sem sentido, que a maioria dos jogos não dura nem o tempo mínimo para acontecer alguma coisa: alguém já corre e compra…!! É como se a gente quisesse dizer: eu não jogo, mas não deixo ninguém jogar!!!!

Convenhamos…! Precisamos rever isso. Antes que seja tarde!!

Temos excelentes atletas na capoeira…!
Temos excelentes capoeiristas, mas esses que tem essa competência não têm oportunidade de fazer um jogo bonito… alguém compra em poucos segundos seu jogo!!

O que Évora me mostrou foi mais de uma centena de pessoas educadas, capazes de abrir mão de seu próprio ego, para assistir um bom jogo, reunidas num mesmo evento…!!

Vi mestres criativos e organizados, que não interrompiam um jogo bonito, que sabiam a diferença entre um jogo comum e um especial, cheio de magia, de efetividade e, para mim o melhor, o gol no jogo…! o resultado… ou pelo menos momentos de grande vibração…!!

O que vi também foi uma razão para estarmos perdendo tantos bons capoeiras para outras artes-marciais: não estamos permitindo que ninguém desenvolva um bom jogo de capoeira! Esses jogos são fundamentais para desenvolvermos nossa capacidade de obter resultados no nosso aprendizado!!

Também acontece que, ao apagarmos o brilho dos jogos de nossa capoeira, nos tornamos sem graça para a platéia. Jogamos para uma plateia alheia que vê uma roda de capoeira e a compara com todos os outros esportes radicas.

Quem não estiver me entendendo, prestem atenção nas rodas que acontecem pelos quatro cantos: nenhum jogo dura mais de 5 segundos… quando muito!!! Aí eu me pergunto: como vamos desenvolver nossa Arte se ninguém tem tempo suficiente para se manifestar…!? Sem poder fazer acontecer um jogo de decisão,  um jogo bonito??

Infelizmente estamos a cada dia perdendo o brilho de nossa Arte. E enquanto não revertermos essa situação a capoeira estará caminhando somente para o seu extermínio enquanto Arte e esvaziada de seus maiores conhecimentos: a Arte da Sobrevivência no meio de uma situação difícil…!

Depois de alguns meses em que estive naquela atmosfera de bambas do povo, sem estrelas, apenas capoeiristas de brilho, como deve ser, ainda sinto os ecos daqueles momentos e percebo que esse evento (2017) não foi um acidente. Isso se acumulou nos anos que Évora vem se tradicionalizando entre os que ali se refugiam, que se encontram e confraternizam em emoções e alegrias pulsantes, mesmo para os nossos capoeiristas europeus, tão serenos e racionais, eles também apreciam – quem não o faz!! – uma roda bonita, um jogo bonito, uma volta do mundo mandingada… uma boa Capoeira, sem sobrenomes… sem ninguém dominando os momentos da roda, a cantoria, os jogos, um verdadeiro celeiro de bambas, anônimos, só preocupados com uma única e exclusiva coisa: que a Capoeira possa descer ali, na milagrosa transcedência dos desiguais, dos diferentes, dos distintos, dos graduados e não graduados, transmutação de uma energia que se torna a verdadeira chama que todos buscamos para nossa arte, em paz, mas em seu pulsar mais sagrado, mais relutante contra essa hegemonia estéril que está tentando anular nossos fundamentos, transformando-os em regras estereotipadas, medidas pela espessura dos bíceps ou dos abdômens perfeitos…!

A roda é o lugar do mais fraco encontrar sua afirmação e sua emancipação enquanto ser igual, enquanto o portador da divina chama de Filho de Deus, que tantos pregam, mas tão poucos sabem o verdadeiro significado, na prática!

Roda também é o lugar do Mestre se encontrar em sua dimensão de respeito ao próximo, aos ancestrais, se conectar na dimensão mais profunda de sua alma. Receber a concessão do sagrado para encontrar sua entidade interior (como dizia o Mestre Decânio) e se manifestar no espaço comum de todas as almas e consciências.

Por isso tudo é que só posso afirmar, depois de contabilizar todos os prós e contras, verificar a efervescência de tantos eventos, cada um clamando por ser o melhor dos melhores, que o Nosso Encontro de Évora é uma dessas tradições que tem muito para ensinar a todos quantos tem a humildade de aprender.

Por isso que só nos resta panfletar essa rica experiência de todos quantos ali já percorreram:
Viva nossa Capoeira de verdade!!

Viva os capoeiristas que não estão permitindo que suas rodas se tornem estéreis e sem nenhum realismo!!

Viva Évora e sua capoeira de bambas de verdade!!!

 

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Mestre Squisito

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