Capoeira em Portugal, uma pequena analise
Capoeira, Portugal & Economia
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Luciano Milani, responsável pelo Grupo Capoeira Mogadouro, Portugal, faz uma análise da Capoeira naquela região comparando-a com outras regiões do Eixo Europeu. |
Jornal do Capoeira – Edição 42: 8 à 14 de Agosto de 2005 Apreciação do Editor Milton Cezar Ribeiro Piracicaba – SP – 10.Ago.2005 “Mettons le cap vers l”ouest pour accoster L”ART DE LA CAPOEIRA À RIO DE JANEIRO, AU BRÉSIL ET DANS LE MONDE (André Lacé) Existe, no Brasil, a falsa impressão de que a grande maioria dos mestres de capoeira vive exclusivamente de Capoeira. Nem o pequeno grupo de mestres realmente bem sucedidos apresenta um quadro desses, pois boa parte desses, paralelamente à capoeira, desenvolve alguma outra atividade profissional. Mal comparando, é um quadro que lembra, guardando as proporções, o quadro do futebol profissional. Todo garoto ambiciona ser um dos grandes, com salários milionários, em euro ou em dólar, esquecendo que a grande maioria dos que tentam um “lugar ao sol”, fica pelo meio do caminho, às vezes até passando dificuldade ao envelhecer. Outro dia, prof. Leopoldo Vaz, de São Luis do Maranhão, publicou no Jornal do Capoeira (edição 40) nota sobre os estudos que ele e filha (Loreta Brito Vaz) estão fazendo a respeito da contribuição da Capoeira no PIB (produto interno bruto) maranhense. Aliás, o próprio Leopoldo comentou que a pesquisa vai além daquele Estado. Ou seja, a intenção é a de estimular um estudo mais amplo, que vise traçar um perfil da contribuição que a Capoeira dá à econômica de cada Estado. Em resposta ao gunga maranhense (gunga é instrumento comunicador, é um “jornalista” nato…), o Rio de Janeiro (Mestre André Lacé) fez mandingueira chamada no estilo Capoeira de Raiz. Pois não é de hoje que Lacé escreve e palestra sobre este importante aspecto sócio-econômico da Capoeiragem de hoje em dia. Remarcando o que adiantamos acima, sempre perguntando “quantos mestres vivem, no Brasil, exclusivamente de Capoeira? De que sobrevivem estes mestres nas férias de julho e de janeiro-março? E na Europa e Estados Unidos, como esse mestre tem sobrevivido?”. Não é um assunto fácil, muito menos agradável, mas deve merecer a atenção de todos mestres, alunos e pesquisadores. Em suas andanças pelo mundo André Lacé tem encontrado uma grande variedade de profissões paralelas, algumas até, extremamente curiosos: “Mestre de capoeira e Músico”, “mestre de capoeira e enfeitador de defunto”, “mestre de capoeira e chofer de táxi”, “mestre de capoeira e artista ou técnico de teatro”, “mestre de capoeira e estudante universitário”. Da maior importância e bem oportuno, portanto, é o artigo que ora sugerimos, do Professor Luciano Milani, que pode ser encontrado em seu site www.lmilani.com , cuja navegação recomendamos a todos. Nas entrelinhas do artigo de Milani vamos encontrar toda a saga enfrentada por quem saí de seu país. Mesmo no caso do brasileiro que vai para Portugal, país-irmão, país-avô, país-amigo, mas que, até mesmo pelo surgimento da Comunidade Européia, com toda razão, está preocupado com os fluxos migratórios. A rigor, o que enfrenta Luciano em Portugal, enfrenta o médico brasileiro, o professor universitário brasileiro, enfim, todo emigrante. Situação que não é diferente em outros países. Nossos mestres de capoeira no exterior, portanto, por definição, são heróicos embaixadores da cultura brasileira. A todos eles, portanto, dedicamos o artigo de Milani. Miltinho Astronauta |
Falar de Capoeira fora do Brasil, é muito mais complicado do que pode parecer…
Existe muita “capoeira” em praticamente todos os cantos do mundo…
Um exemplo muito bom para caracterizar o que estou falando, foi um rápido bate papo com Mestre Bigodinho, que está na Turquia… e começa a desenvolver o seu trabalho naquelas bandas… sucesso camarada!
O mais importante é perceber que apesar de existir muita capoeira no exterior… ela esta praticamente centralizada nos principais eixos economicos, ou seja você encontra muita oferta, mais apenas nas grandes cidades… enquanto que fora destas zonas ela é apenas um raro fenomeno…
Estou dizendo isto por experiência própria… pois isto acontece comigo, em Portugal…
Diferente da Maioria dos professores ou mestres que hoje estão divulgando a nossa capoeira na Europa, eu e minha família não viemos para trabalhar exclusivamente com capoeira, mais sim em outra área do trabalho “formal”, aliás logo que cheguei… percebi e tive aquele frio na barriga pois pensei que nunca mais iria poder ensinar… devido a condições geográficas, preconceitos, e desinteresse cultural… encontrados na região onde vivo e em diversas outras regiões…
Mais qualquer pessoa com motivação, amor pela capoeira, paciência e humildade… não esquecendo do apoio familiar ou de amigos é capaz de desenvolver um trabalho fora deste eixo…
Pois nestas regiões a perspectiva económica, e quantitativa não são das melhores…
posso seguramente afirmar que em níveis economicos as mensalidades chegam a ser até três vezes inferior as praticadas nos grandes centros…
Mais a possibilidade existe, basta querer… e estar disposto a iniciar um trabalho do zero…
Muita gente me escreve, querem saber como é a capoeira em Portugal… pretendendo informações e dicas…
É preciso esclarecer que mesmo Portugal sendo um País pequeno, mais ou menos o tamanho de SP e com uma população praticamente 4 vezes menor… é um País cheio de nuances… diferenças comportamentais… Fazendo uma analogia com o Brasil… é possível esboçar de uma maneira grotesca certas semelhanças…
Assim como no Brasil, temos o eixo Rio-São Paulo Portugal tem como eixo principal as cidades de Lisboa e Porto, onde sei que existe muita capoeiragem… inclusive conheço vários amigos que desenvolvem por lá o seu trabalho, com bons resultados… varias outras cidades que estão em regiões próximas a estas do EIXO, também vem se destacando na disseminação da nossa arte.
Outra regiãoque deve ser mencionada é a região do Algarve, litoral sul de Portugal, onde a capoeira é muito conhecida.
O resto do País, fica praticamente a borda desta situação… sendo raros os casos conhecidos de implementação de um trabalho nestas áreas…
Na Espanha a situação apresenta semelhanças com a situação de Portugal…
Este fenomeno pode ser também comparado com o êxodo Rural…
Resumindo a maior parte da capoeiragem no exterior esta localizado nos principais polos urbanos…
Enquanto que o interior, e as zonas mais distantes, estão a míngua
Axé!
Luciano Milani