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Reflexões de um capoeira rumo aos sessenta anos de idade

Autor: Luiz Renato Vieira

A capoeira nos proporciona inúmeras descobertas. Mas, também, muitos desafios. Com as redes sociais, aumentou o glamour e, para alguns(mas), a necessidade de reconhecimento dos pares. Entretanto, como tudo na vida, isso passa. Podemos prolongar bastante, com esforço e dedicação, mas uma hora passa. Definitivamente.

Assunto delicado. Muitas vezes, evitado, em nome da dinâmica das nossas vidas. Em um mundo que não pode parar, o frenesi diário nos faz viver como se não houvesse amanhã.

Mas o amanhã, se tivermos sorte, existe sim!

Em um determinado momento, vamos nos dar conta de que a idade já não permite tantos eventos, tantas viagens. As limitações da saúde e a perda progressiva da energia são naturais ao envelhecimento. A estruturação da família (para quem deseja formar uma) e a chegada dos filhos (para quem opta por tê-los) são grandes desafios para o(a) capoeirista.

Foco no treino é importante para a capoeira, mas planejar o futuro é essencial para a vida.

Para aqueles que possuem outra profissão para assegurar o futuro, pode ser — frequentemente é — mais simples. Mas é ético e correto disseminar a ideia de que a capoeira, por si só, sem qualquer planejamento, garantirá a todos e todas segurança e conforto na velhice?

Com a chegada em massa da mulher na capoeira, essa reflexão se torna ainda mais oportuna. Todos os dados disponíveis demonstram que a idade atinge de forma diferenciada homens e mulheres no mercado de trabalho. Na capoeira, as desigualdades de gênero não são menores, muito pelo contrário.

As estatísticas sobre trabalho mostram que mulheres, a partir dos 40, têm menos oportunidades que os homens na mesma faixa etária, e com renda menor. Em breve, teremos um grande contingente de professoras e Mestras precisando lidar com essa realidade. Há mobilização da sociedade para o enfrentamento das desigualdades no mercado de trabalho, que também prejudicam severamente pessoas negras. Isso é muito importante para que o universo da nossa capoeira se torne, um dia, mais igualitário.

Você planeja sua carreira para os momentos de dificuldade e para a realidade que vai enfrentar daqui a cinco, dez ou vinte anos?

Você tem pensado em alternativas para que a capoeira continue sempre presente na sua vida, e para que você consiga envelhecer com dignidade, com suas necessidades básicas devidamente atendidas?

Aposentadoria é um direito de todos os trabalhadores, previsto na Constituição Federal, conforme as regras previstas na legislação em vigor. Isso inclui capoeiristas, obviamente, desde que sigam as regras de contribuição que são aplicadas a todos e todas. Não há necessidade de nenhuma lei nova, ou de regulamentação, para que direitos como a aposentadoria sejam assegurados aos capoeiristas. É claro que há custos e é preciso se inscrever no sistema previdenciário e contribuir, conforme as regras que abrangem todos os trabalhadores brasileiros.

É necessário incluir esses temas nas pautas dos grupos e demais coletivos de capoeira. E deixar claro que políticas públicas para a capoeira, que precisamos reivindicar com muito empenho, não excluem os cuidados que cada um e cada uma precisa ter com o planejamento de seu futuro pessoal e familiar.

Autor: Luiz Renato Vieira

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