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Capoeirista “Besouro” leva lenda de herói negro ao Festival de Berlim

Berlim, 15 fev (EFE).- A lenda do capoeirista Besouro, herói da tradição negra brasileira pela luta em favor dos ex-escravos, chegou hoje ao Festival Internacional de Cinema de Berlim pelas mãos do cineasta João Daniel Tikhomiroff.

O filme “Besouro”, estreado na seção Panorama, fora de competição, chegou ao festival após ter sido um sucesso no Brasil, com bilheteria de mais de 500 mil espectadores.

“Para mim era importante mostrar esta história primeiro aos brasileiros, dos quais 95% não sabe que Besouro existiu de verdade e não é apenas um mito. Depois preferi ensiná-la ao resto do mundo”, explicou Thikomiroff à Agência Efe.

A história do lendário capoerista, apelidado de “Besouro”, chegou ao cineasta pelo romance “Feiojada no Paraíso” de Marcos Carvalho sobre a figura de um homem que se transformou em herói popular por seu empenho em praticar a capoeira, embora estivesse proibida, e em defender à população negra das discriminações.

“É um personagem fantástico que, além disso, permite refletir sobre a realidade social do início do século XX. Embora a escravidão já tivesse sido abolida, os negros ainda eram marginalizados e discriminados”, apontou.

Manoel Henrique Pereira, conhecido como “Besouro”, nasceu em 1897 em Santo Amaro da Purificação (Bahia) e passou ao imaginário popular como valente capoerista que enfrentava os armados patrões dos engenhos de açúcar com base em força e habilidade na luta.

O filme opta por um duplo enfoque: o da lenda, com um super Besouro capaz de se transformar em besouro e voar – estimulado pelos deuses da natureza dos Orixás – e o clássico, com dois amigos enfrentados pelo amor de uma menina, um malvado pistoleiro e uma terrível traição.

“Quis transitar entre esses dois mundos, entre o real e o imaginário. É o que faz esta história fascinante, a dúvida de se o que um está vendo é sonho ou realidade. Essa é a beleza do filme”, apontou o cineasta.

Para o papel protagonista, Thikomiroff escolheu Aílton Carmo, um jovem professor de capoeira, sem experiência interpretativa, mas a quem podia “ensinar a viver” a transição do jovem, de rapaz rebelde a fonte de inspiração para outros, mas que tivesse aptidões reais para a dança e para a luta.

Segundo o cineasta, é uma “pena” que nos últimos 20 anos não se tenham feito filmes sobre a capoeira, declarada bem cultural, que neste caso está “no coração” da história.

Carmo decidiu embarcar no projeto porque, desde criança, sonhava em demonstrar a sua mãe que podia fazer um filme de ação com um protagonista negro e que lutasse a ritmo de capoeira, igual aos filmes de Arnold Schwarzenegger, explicou à Agência Efe.

Jessica Barbosa atua no filme como Dinorá, a amiga de infância do protagonista, e na Orixá Iansã, deusa do vento e da chuva. “Em outros países existem o Batman e o Homem-Aranha. No Brasil, temos o Besouro, que é nosso próprio herói nacional”, ressaltou.

Para o cineasta, quase 100 anos depois da história, a realidade brasileira tem 55% de população negra “que continua vivendo algum tipo de discriminação”.

“Este filme mostra uma bela história sobre esse coletivo”, acrescentou. EFE

 

Fonte. O Globo – http://g1.globo.com

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